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Dr. Cristiano Nabuco

O MUNDO DA CRIANÇA É REDONDO

 

Afinal, o mundo da criança é redondo mesmo? Houve um tempo em que se acreditava que a terra era quadrada. Era o que afirmava a Ciência por volta de 1.500 d.C. Os grandes navegadores evitavam singrar mar adentro. Diziam que poderiam chegar ao fim do mundo e despencar num abismo. Foi Nicolau Copérnico quem descobriu que a terra é redonda. Porém, todo trabalho de Copérnico poderia ter sido poupado, se tivessem perguntado a alguma criança da época qual a sua forma. Qualquer criança teria dito que o mundo é redondo.

 

o mundo da criança é redondo

Foto: Território do Brincar

O círculo é sem dúvida a forma básica mais aplicada em toda a natureza: a Lua, o Sol, os planetas, as estrelas.  As células, átomos, elétrons. As formas das plantas, animais, estruturas geológicas. O óvulo, o útero. Todos representados pela forma circular.

Por caracterizar o TODO, o círculo é o símbolo divino. Sempre foi representado em todas as épocas como o símbolo da totalidade original do Universo, da unidade e plenitude. Remete ao infinito, a proteção, segurança, apoio, amizade, amor, cuidado, inclusão. É uma forma convidativa, maternal, acolhedora.

A Terra gira em torno do Sol ao longo do ano, assim como dá uma pequena volta em torno do seu próprio eixo no decorrer de 24 horas. Junto com a Terra giramos em torno dos afazeres cotidianos. Junto com a Terra, a criança também gira em suas inúmeras brincadeiras circulares.

 

 

O mundo da criança é redondo

A criança ao nascer é colocada no peito materno e tem nele o alimento que garante seu crescimento e desenvolvimento saudável. Podemos observar durante a amamentação, a mãozinha do bebê repousada sobre o peito arredondado da mãe e seus olhinhos fixos nos olhos maternos. É através desse olhar que inicia-se a comunicação e estabelece-se o vínculo amoroso.

Comunicação pelo olhar

É no colo da mãe, do pai, que o bebê encontra calor, aconchego.  É no abraço de seus cuidadores que a criança busca consolo, apoio, proteção. Tanto o colo, como o abraço tem formas circulares.

Logo, a primeira e maior referência do mundo da criança desde seu nascimento está fundamentada nesta forma orgânica circular. Ela é uma forma viva, natural, e saudável para a criança.

Um dos primeiros brinquedos oferecido à criança é a bola. Mais tarde ela brincará alegremente de girar seu corpo, brincará de roda, como reflexo de uma memória celular do movimento circular primordial.

 

O mundo da criança é redondo

 

No tanque de areia é quase instintivo que a criança faça bolinhos de areia. Temos ainda as fascinantes bolhas de sabão que encantam todas elas,  que brincam até a exaustão.

Há também a desafiadora bicicleta, sinônimo de autonomia e liberdade, o pião, as brincadeiras com bolinhas de gude, os carrinhos e tantos outros brinquedos e brincadeiras infantis.

 

 

 

 

Quando eu era criança

undo da criança é redondo

Por volta dos meus seis, sete anos, adorava brincar com os bambolês coloridos. Chegava da escola e corria pegar o meu. Passava horas girando-o na cintura, pescoço, braços. Desafiava outras crianças a rodá-lo mais tempo que eu sem deixar cair.  Adorava também brincar de caracol. Com giz, desenhávamos no chão uma grande espiral, dividindo-a em partes.  A brincadeira consistia em pular as casas com uma perna só, ida e volta, e assim marcar uma das casas com a inicial do nome, impedindo o próximo jogador colocar o pé na casa marcada. A criançada se divertia muito com essas brincadeiras.

 

 

 

Um alerta importante

Infelizmente hoje as crianças estão nos quadrados. Da TV à tela do smartphone, as crianças perderam o ritmo natural e orgânico do mundo redondo que as conceberam.  Isso tem acarretado desordens psíquicas, transtornos, dificuldade de socialização, obesidade infantil, aumento da miopia, etc…

 

Hoje já são oito milhões de pessoas viciadas em internet no país, segundo o Grupo de Dependência Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do  Hospital das Clínicas de São Paulo. De acordo com o Dr. Cristiano Nabuco, psicólogo e coordenador do Grupo, a situação é preocupante.  Ele tem atendido casos de crianças viciadas em smartphones, videogames e tablets, incapazes de se relacionar sem ser virtualmente, de manter a concentração e até mesmo dar sequência a um raciocínio lógico.  Ele relata casos de crianças com um pouco mais de 2 anos de idade que não comem, nem vão para a cama se não tiverem o aparelho ao lado.

A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria é que crianças menores de 3 anos não tenham acesso e nem sejam expostas passivamente aos aparelhos tecnológicos. Às crianças maiores, a orientação é de limitar o uso ao máximo uma hora por dia. Recomenda-se ainda que crianças de 0 à 10 anos não tenham TV no quarto.

 

Por que  pais e educadores devem ficar atentos ao acesso tecnológico precoce e intenso?

O Dr. Cristiano Nabuco explica que “nosso cérebro sofre um processo de amadurecimento que só é finalizado após a maioridade, aos 21 anos. A região do córtex pré-frontal é a última área a ser finalizada, e o córtex é responsável pelo nosso raciocínio lógico e também pelo controle dos impulsos, nosso freio comportamental”. E mais: “existem operações mentais que precisam naturalmente serem feitas e o grau de estimulação de um tablet desrespeita essa ‘ecologia’, essa natureza de desencadeamento da lógica”.

Já se sabe por meio de estudos que quanto mais a criança ficar exposta a tecnologia, piores serão suas funções cognitivas, como a memória e desenvolvimento da atenção. Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Educação da Unicamp com meninos e meninas de 8 à 12 anos, que ficam de quatro a seis horas diante das telas de computadores, tablets, celulares e videogames,  aponta que crianças que usam aparelhos eletrônicos sem controle e não brincam, podem ter atraso no desenvolvimento. O resultado mostra que as crianças que se enquadram neste perfil acabam não brincando e nem tendo uma rotina, o que afeta o ritmo de construção do desenvolvimento cognitivo.

 

REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA

undo da criança é redondo

Temos sido tão impactados por esta revolução tecnológica, que perdemos valores importantes. Precisamos urgentemente reaprendê-los para resgatar a saúde da nossa sociedade e principalmente de nossas crianças. Comecemos então por resgatar o calor e a alegria do mundo redondo infantil. Comecemos por estimular o brincar livre na natureza.

 

 

abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado