Browsing Tag

alfabetização

BRINCAR COM PALAVRAS

Brincar com palavras

Palavras também podem ser brinquedo na boca das crianças. Que tal experimentar brincar com palavras?

Então vamos lá. Chamem as crianças e peçam para elas repetirem esta frase:

Três doidos tentam deitar dentro de três tendas

Acharam fácil? E esta?

Tatu bola matuto batuca um batuque em Botucatu

Brincar com palavras

Esses são os trava-línguas, jogo verbal que consiste em dizer de forma rápida e clara, versos ou frases que contenham semelhança sonora das suas sílabas. Trata-se de rimas infantis da cultura popular, transmitida de geração em geração.

O fato de terem de ser ditas com rapidez, faz com que o jogo se torne uma brincadeira desafiante e divertida, inclusive para os adultos. Crianças na faixa entre 6 e 8 anos gostam bastante dessa brincadeira. Além de diversão, é um excelente recurso para o desenvolvimento linguístico.

Na escola podem se tornar um projeto interdisciplinar muito interessante envolvendo a família, com a participação inclusive dos avós para enriquecer o repertório. Ainda, pode-se estimular a turma a criar seus próprios trava-línguas.

Até mesmo em casa, os pais também podem elaborar com as crianças um caderno de trava-línguas e juntos se divertirem muito.

Este foi o que criamos  em casa quando as crianças eram pequenas. Meus filhos adoravam brincar com palavras. Demos boas risadas brincando assim! Aliás, este foi um jogo que me ajudou bastante em momentos que precisava entreter as crianças, como em salas de espera de consultórios médicos, no carro em viagens longas, etc.

Mas foi muito além. Pude perceber o quanto foi benéfico para o processo de letramento deles, pois os trava-línguas estimulam a atenção e concentração, melhoram a dicção, desenvolvem naturalmente a questão do ritmo, o que ajuda na absorção da divisão silábica e leitura oral.

Quer uma sugestão de um livro de trava-línguas para começar a brincar com palavras? Deixo aqui a dica do livro da jornalista Ciça, autora de outras publicações do gênero linguagem lúdica, e com ilustrações do jornalista e cartunista mineiro Zélio Alves Pinto – ‘O livro do trava-língua’.

Viu quantos benefícios? O que está esperando para começar a brincar com palavras?

Brincar com palavras

Esta é uma maneira natural, saudável e lúdica de ajudar as crianças  no processo de aprendizado da escrita e leitura. Temos discutido muito aqui no Educando Tudo Muda as questões sobre a pressão escolar, a importância de respeitar o tempo de amadurecimento cognitivo de cada criança e o espaço do brincar –  base da infância.

Profissionais de várias áreas que trouxemos para debater este tema foram unânimes quanto à necessidade de compreender a criança como um ser integral, considerando no aprendizado formal os aspectos físicos, emocionais, cognitivos e sociais da criança.

É assim que pensa também o odontólogo Dr. Saulo Teles¹, nosso convidado para contar um pouco a respeito de sua experiência e observações no consultório no atendimento às crianças.

UM OLHAR INTEGRAL

“Procuro sempre olhar meu paciente como um todo, como propõe o paradigma holístico. Observamos a repercussão do social/emocional naquele paciente.

Em tese, a criança estaria preparada para alfabetização por volta dos 7 anos quando ocorre a mielinização de certos nervos o que vem proporcionar a plasticidade corporal, os ritmos, a pinça, a oposição do polegar, segurança para se afastar da mãe, etc

Avaliamos a postura bucal, as maloclusões, ocorrência de dentes fora da posição adequada, mordida cruzada, sobre mordidas, retrusão maxilar e/ou mandibular, posição da língua, se faz o vedamento labial eficiente, se mastiga bilateralmente, etc.

Observamos também a postura da cabeça, dos olhos, dos ombros, da coxofemural, joelhos, tornozelos, da forma como pisa, da marcha, do seu eixo postural, o desempenho escolar, como interage socialmente, relação com pai e mãe, histórico de saúde, entre outros.

O QUE SINALIZA O AMADURECIMENTO DA CRIANÇA PARA O PROCESSO DE LETRAMENTO?

Geralmente a criança dá sinais de prontidão. A presença dos incisivos laterais é um sinal forte da sua demanda social/escolar. A pinça, a oposição do polegar, marcha mais refinada. A própria criança pede para ir à escola.

A infância, como uma estação do ano, se dá entre 0 a 7 anos. Esse é o tempo destinado para estar em família brincando, correndo, gritando, aprendendo a interagir, vivendo os afetos, se semialfabetizando através do contar estórias, etc. Tudo que se opõe a esses aspectos antecipa, acelera, gera fortes tensões nas cadeias musculares, podendo provocar enfermidades variadas.

Leia também: Por que não alfabetizei meu filho antes dos 7 anos e as 6 consequências da alfabetização precoce

Se educa a personalidade, se educa o ego, de forma que na ausência daquele, não há nada a educar. Afastar a cria da mãe antes do momento adequado pode ser desastroso. Amamentação interrompida, filhos terceirizados nas escolas. Geralmente apresentam sintomas tais como falta de vedamento labial, dentes tortos, mandíbula retraída, problemas cognitivos, hiperatividade, distúrbios de personalidade, autismo, postura corporal inadequada, etc.

É um assunto extenso que geralmente é tratado dentro de uma ótica sistêmica, com um sentido filogenético que vem a sustentar a ontogenia de cada ser. A biologia com seu código genético, pede expressão funcional no meio, de forma que se houver oposição a esta expressão poderá ocorrer sintomas. É importante lembrar que cada espécie tem suas  formas e funções”.

Agradecemos a participação do Dr. Saulo Teles que deixa claro a importância de olhar a criança em todos os seus aspectos para que ela possa se desenvolver de maneira harmoniosa, equilibrada, com saúde, pois na organização do ser humano tudo está interligado e funciona em cadeia. Desta forma, nada pode ser visto isoladamente quando se fala em desenvolvimento integral do ser humano.

Vale também salientar que hoje muitos profissionais da área de saúde defendem a necessidade de um período maior de licença maternidade e paternidade para o cuidado da criança nos primeiros anos e o estreitamento dos vínculos afetivos, vitais para o desenvolvimento infantil.

Brincar com palavras

Recomendo a leitura do livro “A criança terceirizada”, do Dr. José Martins Filho e também o TED do Dr. Daniel Becker. Ambos bem esclarecedores sobre o valor das relações familiares nos dias de hoje.

Voltando à questão do brincar com palavras, espero que tenha despertado o interesse por essa brincadeira tão gostosa. Para finalizar, fica mais um desafiante trava-línguas:

Quando eu digo Diogo, eu não digo Digo. Quando eu digo Digo, eu não digo Diogo

Participe você também desta reflexão deixando seu comentário. Fique por dentro de temas atuais ligados a infância cadastrando-se no site, e ainda receba um lindo e-book gratuitamente.

Abraço caloroso

Ana Lúcia Machado

¹- Graduado em Odontologia em 1980

– Atualização em Ortopedia Funcional dos Maxilares

– Atualização em Bio Cibernetica Bucal

– Pós em Saude Coletiva

– Pós em Ortodontia

– Pós graduando em DTM

– Processo Fisher Hoffman da Quadrinidade

– Eneagrama da Personalidade

– Fundacion Rio Abierto Movimento e expressão

– Terapia Craniossacral

EDUCAÇÃO INFANTIL E AS CEM LINGUAGENS DA CRIANÇA

Educação Infantil e as cem linguagens da criança

A Educação Infantil deve ser um espaço e tempo de liberdade para o desenvolvimento das cem linguagens da criança, entre elas, o brincar – linguagem universal da infância.

Temos debatido sobre o processo de aprendizagem na Educação Infantil desde a publicação do artigo DEVOLVAM O TEMPO DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL, leia aqui.

Educação Infantil e as cem linguagens da criança

Dando continuidade as discussões, esta semana Educando Tudo Muda entrevistou Raquel Franzim, pedagoga e especialista em Educação Infantil. Raquel trabalhou por quase 15 anos na rede municipal de educação da cidade de SP em cargos de docência, gestão e formação de educadores. Atualmente é assessora pedagógica no Instituto Alana, na área de educação e cultura da infância e coordena junto com a Ashoka o Programa Escolas Transformadoras no Brasil.

 

Quando uma criança está preparada para dar início ao processo de alfabetização sob o ponto de vista do desenvolvimento integral?

Depende do que se entende por alfabetização. Se entendermos alfabetização apenas como a decodificação de letras, há um consenso de que a criança inicia esse processo lá pelos seis ou sete anos. No entanto, se entendermos alfabetização como um processo amplo de interpretação e construção de sentido sobre o mundo e às marcas gráficas, contínuo em toda vida humana, podemos dizer que esse processo inicia-se ainda na vida intrauterina e termina ao morrermos.

Toda criança, desde seu nascimento, vive em uma cultura repleta de símbolos gráficos, do mundo letrado. Mesmo sem ainda ler e escrever tal como o convencionado socialmente, crianças pequenas atribuem significado e reconstroem a seu modo as marcas orais e escritas do mundo.

Educação Infantil e as cem linguagens da criança

Imagem: Avante.org.br

Portanto, não há momento específico para iniciar esse processo, mas todo o cuidado deve se ter para que a linguagem verbal, seja ela escrita ou oral, não sejam as únicas linguagens exploradas pela escola. Loris Mallaguzzi, educador italiano, por exemplo, defendia que a criança tem muitas linguagens, diversas formas de se expressar, de compreender e de reinventar o mundo.

 

Na sua visão, o que é a alfabetização precoce? O que você considera antecipação e aceleração desse processo?

As práticas educativas que desconsideram a infância como um período muito ativo por parte da criança e com diferentes formas de expressão, aprendizagem, interação com e sobre o mundo. A criança é construtora de culturas, de formas de ser, pensar e estar no mundo. Isso é uma coisa.

Educação Infantil e as cem linguagens da criança

Outra coisa é a escola privilegiar o tempo de vida da criança na escola apenas para a exploração da linguagem verbal (escrita e oral), uma das muitas linguagens da criança. Mais problemático é se a escola organiza as experiências de linguagem verbal sem relação nenhuma com a vida e com as práticas sociais de ouvir, falar, ler, escrever.

Certa vez, ouvi uma terapeuta ocupacional falar da linha de desenvolvimento humano. Foi a melhor explicação que já ouvi! Bebês e crianças pequenas se desenvolvem em um movimento céfalo-caudal (da cabeça aos pés, não  à toa bebês levam um tempo para sustentar a cabeça e depois conquistar a marcha, o caminhar) e próximo-distal (ou seja, do centro do corpo, partindo do coração, dos afetos, passando pelos movimentos amplos do corpo até a parte mais fina – os dedos e os movimentos de pinça). Ignorar isso é ignorar a ciência e muitas oportunidades das crianças se desenvolverem de corpo e alma, integralmente.

 

Quais os efeitos da alfabetização precoce?

Desconheço pesquisas que retratem isso. E muitas professoras e professores de educação infantil sabem, pela experiência viva, que crianças necessitam de vivência, relação e muito tempo e espaço para brincar. No entanto, a pressão social pelo aprendizado da linguagem escrita é muito forte. A maioria das famílias compreende a escola como um espaço para ‘aprender’ e não para brincar.

É difícil reconhecer o quanto as crianças aprendem outras coisas nessa fase da vida. Por isso, é papel de toda escola ajudar a família a aprender a olhar a experiência da criança pequena. E entender que ela não é pequena ou menor que outras experiências que virão mais para frente.

Também faz-se necessário dar mais visibilidade a pais e educadores pesquisas que evidenciam a importância do desenvolvimento integral e integrado nessa fase da vida e o impacto nos anos seguintes e na vida como um todo.

Temos a vida toda para aprender a ler e escrever formalmente, mas apenas 6, 7 anos para explorar intensamente toda a nossa capacidade física, sensorial, simbólica, gestual, comunicativa e criativa.

 

Qual a essência do trabalho na Educação Infantil?

Educação Infantil e as cem linguagens da criança

O essencial na educação infantil é a possibilidade da criança interagir com uma comunidade maior que suas próprias famílias. Ampliar os horizontes sociais e culturais. Se sentir pertencente a uma comunidade, participando ativamente dela. Toda a experiência nos 7 primeiros anos de vida é extremamente marcada pelo afeto aprendido e construído nas e pelas relações, pelo desenvolvimento das emoções, do sentir e se relacionar com diversos sentimentos. Junto com outras crianças da mesma idade e de diferentes idades, poder construir suas próprias narrativas, sejam elas corporais, simbólicas, orais, musicais etc.

 

O brincar, na primeira infância, não é apenas uma forma da criança aprender o mundo. É especialmente sua principal linguagem e meio de criação e reinvenção da vida. Não há fase na vida com tamanha intensidade como essa.

 

O que irá mudar na Educação Infantil a partir das discussões sobre a Base Nacional Comum Curricular ?

As audiências públicas realizadas nas 4 regiões do país e no Distrito Federal mostraram que a educação infantil é marcada historicamente pela compreensão de uma escola preparatória para o ensino fundamental. Isso traz graves consequências ao desenvolvimento integral das crianças, por privilegiar apenas a linguagem verbal na relação de ensino e aprendizagem. Imagine, como as crianças são podadas em sua criatividade e construção de conhecimento, sentimento e fazeres se apenas um dos aspectos delas? Contudo, a Base ainda aguarda a deliberação do Conselho Nacional de Educação e a homologação da versão, com o parecer do Conselho. Ademais, acredito que as escolas, educadores e famílias que acreditam que a educação infantil é um espaço plural não deixarão de o fazer, mesmo se a Base trouxer uma abordagem contrária.

Um alerta é o crescente apelo comercial do mercado editorial para padronização dos processos de ensinar e aprender na educação infantil, por meio de apostilas e materiais didáticos. Isso significa que há um enorme interesse de grupos econômicos em vender material para essa fase da vida – tolhendo a criatividade e autonomia não apenas de educadores, mas do potencial criador e criativo das crianças.

 

Para finalizar, deixamos aqui o poema de Loris Mallaguzi , educador a quem Raquel faz referência:

Educação Infantil e as cem linguagens da criança

Ao contrário, as cem existem

A criança é feita de cem.
A criança tem cem mãos
cem pensamentos
cem modos de pensar
de jogar e de falar.
Cem sempre cem
modos de escutar
de maravilhar e de amar.
Cem alegrias para cantar e compreender.
Cem mundos para descobrir.
Cem mundos para inventar
Cem mundos para sonhar.
A criança tem cem linguagens
(e depois cem cem cem)
mas roubam-lhe noventa e nove.
A escola e a cultura
lhe separam a cabeça do corpo.
Dizem-lhe:
de pensar sem mãos
de fazer sem a cabeça
de escutar e de não falar
de compreender sem alegrias
de amar e de maravilhar-se
só na Páscoa e no Natal.
Dizem-lhe:
de descobrir um mundo que já existe
e de cem roubaram-lhe noventa e nove.
Dizem-lhe:
que o jogo e o trabalho
a realidade e a fantasia
a ciência e a imaginação
o céu e a terra
a razão e o sonho
são coisas
que não estão juntas.
Dizem-lhe enfim:
que as cem não existem.
A criança diz:
ao contrário, as cem existem.

 

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

DEVOLVAM O TEMPO DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

ESCOLARIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Analisando o cenário atual da Educação Infantil, a sociedade faz um apelo: devolvam o tempo do brincar na Educação Infantil. Não podemos aceitar as recentes mudanças impostas pelo MEC de escolarização da Educação Infantil. Leia aqui.

Faço parte de uma geração que passou os primeiros anos de vida brincando em casa, na escola, na rua, com amigos da vizinhança, com primos, cuidando da minha cachorrinha, ouvindo histórias contadas pelos mais velhos, andando de bicicleta pelo bairro, e assim  descobrindo e explorando o mundo.

Na pré-escola , até os 7 anos,  aprendi muitas canções e histórias, desenhei, pintei, recortei, colei, pulei corda, brinquei de roda, amarelinha, casinha, médico, professora, etc… Aprendi a dividir com os amiguinhos, jogar de acordo com as regras, pedir desculpas quando necessário, cuidar das plantinhas, guardar e arrumar o que tirasse do lugar, não mexer no que não fosse meu.

Há uma grande diferença entre a minha vida na pré-escola e a vida das crianças nos dias de hoje. Os anos pré-escolares se transformaram em uma competição acadêmica exaustiva. A Educação Infantil ficou muito parecida com o Ensino Fundamental, por causa da ênfase na alfabetização.

APROVEITE: LANÇAMENTO DO LIVRO ‘A TURMA DA FLORESTA – UMA BRINCADEIRA PUXA OUTRA 

POR QUE TANTA PRESSA EM ALFABETIZAR AS CRIANÇAS?

Crianças de 4, 5 anos, ainda ávidas por correr, pular, girar, são requisitadas para atividades cognitivas que exigem um corpo estático e destreza em habilidades ainda em desenvolvimento na criança, como a coordenação motora fina. Raquel Franzim, assessora pedagógica do Instituto Alana, fala que “A criança aprende o mundo com todo seu corpo, não  apenas com os dedos de uma mão”.
DEVOLVAM O TEMPO DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Autoridades escolares diminuíram o intervalo do recreio, do tempo do brincar,  para criar espaço para mais conteúdo curricular. Em algumas escolas as crianças não podem mais correr. Com isso os consultórios de psicologia estão cada dia mais cheio de crianças com problemas de falta de concentração, ansiedade, e vários transtornos.

Em 2007, o Conselho de Pesquisa Econômico e Social da Inglaterra publicou um documento que contou com a participação de dezessete especialistas de diversas universidades europeias interessados na discussão entre a neurociência e a educação, que diz o seguinte:

 

“Contrariando a crença popular, não existem evidências neurocientíficas que justifiquem começar a educação formal o quanto antes. A plasticidade do cérebro é um fenômeno que dura a vida inteira, não somente nos primeiros anos.”

 

 

AFINAL, O QUE É A ALFABETIZAÇÃO? 

Paulo Freire sempre advertiu que alfabetizar é antes de mais nada conscientizar. Ele falava da conscientização do “mundo vida”, onde a criança vive, onde ela se encontra e o que a rodeia. Dizia que primeiro a criança lê o mundo para depois ler as letras”.

Em outras palavras é o que fala também a jornalista especialista em neurociências e neuropsicologia Michelle Müller: “Antes de generalizar o aprendizado das palavras ou apressar a alfabetização, é preciso ter em mente que a leitura de mundo dos pequenos acontece de muitas maneiras. Um bebê, por exemplo, lê com o corpo, com os ouvidos, com as mãos, a partir da exploração tátil, sonora e visual das coisas.

DEVOLVAM O TEMPO DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O psicolinguista colombiano Evelio Cabrejo Parra, explica que “o bebê, ao nascer, já vem com a capacidade de escutar. Quando se lê para ele em voz alta ou se canta uma canção de ninar, ele se põe em posição de escuta. Isso quer dizer que ele está tratando de construir significado à sua maneira”.  Parra defende que desenvolvemos a linguagem desde bebês, e vê  a ‘alfabetização’ como um processo sutil anterior à fala e à escrita, que tem início por meio da escuta.

A experiência dos finlandeses, que não começam uma instrução formal de leitura antes de 7 anos de idade, revela que “a base para o início da alfabetização é que as crianças tenham atenção e ouçam … que elas tenham falado e conversado, que as pessoas tenham discutido [coisas] com elas … Que elas tenham feito perguntas e recebido respostas”.

 

DEVOLVAM O TEMPO DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Leia também: Por que não alfabetizei meus filhos antes dos sete anos e as 6 consequências da alfabetização precoce

 

 

Beatriz Gayotto, pedagoga pelo Instituto Singularidades, e professora de Ensino Fundamental do Estado de São Paulo, adverti  que “o enfoque do trabalho da Educação Infantil deve ser a socialização da criança, o desenvolvimento das habilidades de ouvir, de se expressar e de negociar. A Educação Infantil deve aumentar os horizontes culturais das crianças, resgatar as canções, histórias e brincadeiras que elas conheceram em casa e ampliar seu repertório com o dos colegas e com aquele que a professora apresenta, tanto da cultura regional como da mundial”.

FATORES QUE FAVORECEM O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO 

  • Habilidades motoras e domínio espacial, adquirido na exercitação do correr, saltar, rodar, equilibrar-se em troncos de árvores, perna de pau, trepa-trepa, etc…
  • Interação social, conquistado pelas brincadeiras e jogos em grupos, em casa e na escola
  • Expressão oral, saber dialogar, contar uma história, facilitado por repertório de canções, histórias, versos, parlendas, aprendidos em casa, na escola
  • Escuta, exercitado por ouvir histórias em casa, na escola
  • Registros de ideias e vivências artísticas por meio de desenhos, pinturas e colagens
  • Saber contar os números, exercitado nas brincadeiras de esconde-esconde, pular corda, nas compras com a família, na cozinha com os pais no preparo de receitas culinárias, etc…
  • Autonomia no cuidado pessoal e de seus pertences
  • Internalização de rotina e ritmo

 

DEVOLVAM O TEMPO DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Na contra mão da aceleração…

especialistas afirmam que o aprendizado formal  é mais produtivo  a partir dos 6 anos de idade, pois é quando as crianças são mais capazes de lidar com ideias abstratas. Afirmam também que  crianças que chegam à escola socialmente adaptadas, que sabem seguir instruções, compartilhar, ajudar os amigos, terão mais chance de dominar a escrita, a leitura, e os números.

Um dos grandes aliados da criança na primeira infância, como força de aprendizagem, é o tempo do brincar livre. Entretanto, infelizmente na sociedade contemporânea o tempo do brincar livre está em declínio, as novas gerações estão sendo privadas deste tempo e espaço de brincar.  Especialistas na área de educação e saúde vêm alertando sobre a diminuição do tempo de brincar das crianças e seus prejuízos. Por isso o apelo “Devolvam o tempo do brincar na Educação Infantil”.

Brincar é substrato para a vida,  é o motor da infância que garante a potência para a vida adulta. Brincando  a criança desenvolve competências que serão requisitadas mais tarde nas relações interpessoais e de trabalho. Brincar é uma atividade instintiva, natural e espontânea da criança. Ele é essencial para o desenvolvimento infantil integral e saudável, e segue tendo sua importância ao longo da vida adulta, porque afinal somos seres lúdicos.

Será que não estamos adoecendo as crianças com nossa pressa? Será que o aumento dos distúrbios infantis, não estão diretamente ligados ao tempo insuficiente do brincar? Será que não estamos tolhendo as crianças de gastar suas energias brincando e exercitando a imaginação?

 

DEVOLVAM O TEMPO DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O brincar tem origem na curiosidade e necessidade de exploração da criança para construção do seu próprio mundo, sua identidade, a imagem de si e a compreensão do mundo que a cerca. Ele ensina tudo o que os pequenos precisam aprender sobre a dinâmica interna e estrutura do seu próprio corpo. Quando brinca a criança está inteira na brincadeira, pois brinca com todo o seu ser. Brincando ela experimenta o estado de flow, e assim desenvolve a capacidade de concentração, necessária para o processo de alfabetização.

Quando meus filhos tiveram que ir para escola, optei por uma pré-escola com foco no brincar livre na natureza. O início do processo de alfabetização de ambos, só ocorreu a partir dos 7 anos, quando eles estavam prontos e maduros para as atividades intelectuais. Conto minha experiência em detalhes aqui.

Quando compartilhei minha história com os leitores do Educando Tudo Muda, dezenas de pais e educadores se manifestaram, expressando suas angústias e inquietações por meio de comentários no blog e nas redes sociais. Vale a pena ler esses comentários, como o da mãe Viviane Silva, e da professora Grace Vania Loguercio Budke:

“Oi Ana….amei seu texto sou estudante de pedagogia e tenho 2 filhos um 7 anos completos e outra com 5 anos, ambos estudam em escola pública e na escola pública o ensino vem mudando por exemplo os professores de EMEI agora que é o pré não precisa mais iniciar a alfabetização, tudo para deixar a criança brincar porém vem o estado e muda tudo, pq agora a criança inicia no ensino fundamental com 6anos, não tive problemas com meu filho pois faz aniversário em Maio então entrou no primeiro ano com 7 anos completos, mas já estou mega triste pois minha filha vai para o ensino fundamental com 6 pois ela faz aniversário em dezembro como completa 7 no ano seguinte já vai para o primeiro ano, eu acho tudo mais precoce nela, mas na alfabetização é bem claro q ela não está madura o suficiente,meu filho quando saiu ja estava lendo pequenas palavras mas isso foi sendo progresso dele sozinho, ir juntando as letrinhas q ia aprendendo, mas ele já estava para completar 7 anos, o que ainda não acontece com a minha filha ela ainda não despertou esse interesse pq não está na idade certa ainda, vai ser forçada a aprender e se alfabetizar 1 anos antes sem necessidade. Falei com a escola, pra ela ficar mais 1 ano na EMEI e isso não é possível, devido a demanda e tb pq a lei é essa agora, o primeiro ano é considerado a iniciação e ela está apta. Enfim, triste mas é a nossa realidade”.vai ser forçada a aprender e se alfabetizar 1 anos antes sem necessidade. Falei com a escola, pra ela ficar mais 1 ano na EMEI e isso não é possível, devido a demanda e tb pq a lei é essa agora, o primeiro ano é considerado a iniciação e ela está apta. Enfim, triste mas é a nossa realidade”.vai ser forçada a aprender e se alfabetizar 1 anos antes sem necessidade. Falei com a escola, pra ela ficar mais 1 ano na EMEI e isso não é possível, devido a demanda e tb pq a lei é essa agora, o primeiro ano é considerado a iniciação e ela está apta. Enfim, triste mas é a nossa realidade”.

“Sempre me questiono… Por quê alfabetizar antes dos sete anos??? Como professora presenciei angustiada a frustração de alunos imaturos e com sérios problemas de  relacionamento com o mundo exterior, por terem deixado os anos lúdicos por compromissos e hora para brincar. O bum!!!! Disso tudo se dá na pré adolescência lá pela quinta ou sexta serie. A desculpa de pais ansiosos é que hoje os pequenos já dominam a era digital!!!etc,etc. Que hoje é diferente. Sim, mas para eles antes dos 7 anos tudo ainda é brinquedo, sem compromisso , horário e confinamento de sala de aula”.

Devolvam o tempo do brincar na Educação Infantil. É preciso questionar o sistema e defender o direito das crianças viverem a infância como deve ser, respeitando as etapas de seu desenvolvimento. Tudo a seu tempo.

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POR QUE NÃO ALFABETIZEI MEUS FILHOS ANTES DOS SETE ANOS E AS 6 CONSEQUÊNCIAS DA ALFABETIZAÇÃO PRECOCE

alfabetização precoce

Este é um relato sobre o por que não alfabetizei meus filhos antes dos sete anos e as 6 consequências da alfabetização precoce.

Tenho dois filhos. O mais velho, entrou na universidade este ano e a caçula está às vésperas de começar o ensino médio. O que me confere o distanciamento necessário para uma avaliação consciente do resultado das opções que fizemos em relação à  educação deles. Uma das opções, vou relatar aqui, por que não alfabetizei meus filhos antes dos sete anos, e apontar algumas das consequências da alfabetização precoce.

Quando o primogênito nasceu, caiu em minhas mãos um livro intitulado “Como ensinar os bebês a ler”. Como sou uma leitora contumaz, logo dei conta de conhecer o  método de alfabetização de bebês proposto nessa publicação.

Confesso que fiquei chocada e ainda depois de tantos anos, me lembro da sensação desconfortante que essa leitura me causou. No final do livro, havia textos poéticos de crianças alfabetizadas em tenra idade pelo método. Eram poemas que denotavam tal densidade, tamanha angústia nas entrelinhas, uma visão cinzenta do mundo, que me assustou e me fez perceber quão nefasta é a alfabetização precoce na vida de uma criança.

E logo entendi a verdadeira linguagem da criança pequena, e a forma como ela apreende e aprende o mundo. Quando o meu olhar e do meu bebê se encontravam, e um sorriso iluminado se abria em seu rostinho, com sons e aquele balbuciar característico dos bebês, ficou claro para mim que o ser humano é um ser brincante e que seu desenvolvimento e aprendizado está fundamentado numa linguagem lúdica.

Lembro também da minha irmã caçula, mais nova que eu 17 anos. Ela foi uma criança tão brincante! Levava tão a sério seu ofício de brincar! Passava horas e horas concentrada, criando brincadeiras, construindo seus brinquedos. Quando chegou a hora de ir para o 1º ano escolar e ser alfabetizada, seu desejo por brincar ainda era tão gritante, que minha mãe, em sua sabedoria foi até a escola e pediu para a diretora deixá-la  mais um ano na pré-escola. E assim foi que feliz da vida ela pôde amadurecer e se preparar para a alfabetização no ano seguinte, sem prejuízo algum à sua vida escolar.

consequências da alfabetização precoce

Foi observando o quanto as crianças precisam correr, pular, rolar, rodar, rir, e o quanto elas são curiosas, ávidas a explorar tudo que as cercam, que tive a certeza de que para meus filhos se desenvolverem de forma natural e saudável, o melhor a fazer seria favorecer o brincar. E desta forma optei por uma pré-escola com foco no brincar livre na natureza. O início do processo de alfabetização de ambos, só ocorreu a partir dos 7 anos, quando eles estavam prontos e maduros para as atividades intelectuais.

 

 

A NATUREZA COMO ESCOLA DA VIDA

A natureza é uma grande mestra e criança aprende brincando. O brincar é uma atividade espontânea e nata em toda criança. O brincar ensina tudo o que os pequenos precisam aprender. Paulo Freire diz: “Primeiro a criança lê o mundo para depois ler as letras.” No contato com a natureza a criança aprende o que não pode ser ensinado nem pelos pais, nem por professores. A necessidade da criança de movimento é imensa e constante, isto a leva a conhecer e explorar o mundo que a cerca.  As vivências e brincadeiras ao ar livre proporcionam  inúmeras conquistas:

-Autonomia e segurança

-Conhecimento do próprio corpo,

-Habilidades motoras, destreza e equilíbrio corporal

-Florescimento da imaginação e fantasia

-Interesse e encantamento pelo mundo

-Vitalidade e saúde

 

Olhar uma criança brincando é reaprender a dimensão do humano. Quando brinca, a criança está inteira na brincadeira. Ela brinca com todo o seu ser.

alfabetização precoce

Entretanto, o livre brincar está em declínio na sociedade contemporânea. Infelizmente a Educação Infantil está cada dia mais parecida com o Ensino Fundamental, por causa da ênfase na alfabetização. Atividades que requerem que a criança seja capaz de se sentar em uma mesa e completar uma tarefa usando lápis e papel, que antes estavam restritas às crianças de 5 e 6 anos de idade, são agora dirigidas às crianças ainda mais novas, que não têm habilidades motoras e não têm a capacidade de concentração para isso, com exigências de que devem concluir seus trabalhos e atividades, antes que possam ir brincar. O sistema escolar tradicional tem produzido crianças completamente desinteressadas pela escola.

As consequências da pressão escolar e alfabetização precoce são muito sérias e devemos estar atentos a elas:

alfabetização precoce

 

1)Desvitalização  do organismo,

2)Empobrecimento da capacidade imaginativa e criativa

3)Apatia, desinteresse pelo mundo

4) Dificuldades  nos relações sociais

5) Agressividade

6)Stress infantil

 

 

Crianças que são tolhidas na sua necessidade de brincar terão dificuldades de decodificar o mundo. Stuart Brown, psiquiatra americano, pioneiro na pesquisa sobre o brincar, em seus estudos profundos sobre histórias de vida de assassinos e alcoólatras, descobriu a ausência do brincar na vida dessas pessoas. Seus anos de prática clínica comprovam que brincar bastante na infância gera adultos felizes e bem sucedidos e a capacidade de continuar nutrindo este ser brincante que somos, nos mantém joviais e saudáveis ao longo da vida. Brincar é vital.

alfabetização precoce

Brincar, como disse Albert Einstein, é a forma mais plena de fazer ciência, de explorar e investigar as coisas.

Sei que remar contra a maré é mais difícil, mas neste caso vale a pena. Vale questionar o sistema, questionar a alfabetização precoce e defender o direito das crianças viverem a infância como deve ser, com respeito, em sua plenitude, encanto e beleza. Como tão bem versejou Fernando Pessoa,

Quando as crianças brincam

E eu as oiço brincar,

Qualquer coisa em minha alma

Começa a se alegrar.

E toda aquela infância

Que não tive me vem,

Numa onda de alegria

Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,

E quem serei visão,

Quem sou ao menos sinta

Isto no coração.

Abraço

Ana Lúcia Machado