Proteger nossos filhos do consumismo infantil é um dos grandes desafios da atualidade.
Esta semana uma leitora do Educando Tudo Muda, mãe de dois filhos pequenos, entrou em contato comigo pedindo ajuda para uma ideia que deseja implementar em sua cidade a partir de uma percepção que teve a respeito da relação dos filhos com os brinquedos.
Em sua mensagem ela conta que observou que muitos dos brinquedos que seus filhos pedem é mais pelo prazer de ter aquilo que aparece no comercial de televisão e que os amigos tem, do que propriamente a vontade de brincar. Ela diz que “eles brincam uma ou duas semanas e daqui a pouco deixam de lado”.
Foi pensando no relato desta mãe que resolvi reforçar o tema do consumismo infantil aqui no Educando Tudo Muda.
Já ultrapassei a fase dos filhos pequenos. Sei bem dos desafios da educação das crianças nesse período e entendo o que o relato dessa mãe significa.
Na maioria das vezes nos sentimos impotentes frente à avidez da indústria aliada ao aprimoramento da persuasão dos especialistas da propaganda e do marketing. A publicidade tem um alvo bem específico: o lado emocional do ser humano. Os apelos dos comerciais atingem diretamente nossos corações. Se até nós, adultos, somos fortemente seduzidos e temos dificuldades de colocar freio nos impulsos de compras, imagine como uma criança, em sua vulnerabilidade é impactada!
Os olhos gananciosos da indústria de brinquedos, alimentos, vestuário, estão cada vez maiores em cima das crianças, no potencial consumidor que esses gigantes industriais enxergam na infância.
O mercado brasileiro de brinquedos vem crescendo ano após ano mesmo em situação de crise econômica. Ele apresenta a cada ano mais e mais lançamentos: brinquedos em geral, colecionáveis e educativos, jogos, pelúcias, artigos para festas, fantasias, etc.
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Cabe primeiramente à nós, pais, família, proteger nossos filhos do consumismo infantil educando-os para o consumo sustentável e cobrando dos orgãos competentes medidas contra o abuso da publicidade, uma vez que direcionar publicidade às crianças é prática ilegal, conforme previsto pela lei. À escola cabe abrir espaços para o debate do tema com os alunos e coibir qualquer tipo de propaganda dentro da instituição educacional.
O QUE PODEMOS FAZER PARA PROTEGER NOSSOS FILHOS DO CONSUMISMO INFANTIL?
1.SEJA UM CONSUMIDOR CONSCIENTE
Crianças absorvem o que vêem. Apreendem nossas ações e não aquilo que falamos para elas.
2.REDUZA O TEMPO DE EXPOSIÇÃO DAS CRIANÇAS ÀS TELAS
O uso abusivo da TV, internet, jogos eletrônicos, acarreta problemas de saúde: transtornos alimentares, distúrbios do sono, isolamento do convívio familiar, dificuldade de concentração, etc. Segundo levantamento do IBOPE (2011), as crianças brasileiras estão entre as que mais assistem televisão no mundo, em média mais de 5 horas por dia.
3.ATUE COMO MEDIADOR DOS CONTEÚDOS DIGITAIS ACESSADOS PELAS CRIANÇAS
Na medida em que elas acessam a internet, ficam expostas a conteúdos descontextualizados, informações “desencarnadas”, isto é, não mediadas por um adulto. Estar ao lado das crianças para orientar e conversar a respeito do que está sendo visto é fundamental.
4.PROMOVA ENTRETENIMENTO NÃO ATRELADO AO CONSUMO
Conte histórias, toque um instrumento, cantem, cozinhem juntos, brinquem de mímica. Pense, qual a relação entre consumo e diversão?
5.EVITE IR ÀS COMPRAS COM AS CRIANÇAS
Fazer supermercado nos fins de semana é um evento costumeiro das famílias, entretanto este não é um ‘programa’ legal para as crianças. Na maioria das vezes causa muitos desgastes. Procure alternativas para poupar-se desse stress. Se não tiver outra saída, faça a lista de compras com seu filho e durante as compras atenha-se à ela. Isso evitará gastos com coisas desnecessárias.
6.INCENTIVE O HÁBITO DA LEITURA
Lembrando que os livros podem ser emprestados numa biblioteca pública ou em unidades do Sesc. Mas se você não for exemplo de leitor para seu filho, não adiantará muito. Crianças imitam o que fazemos e não o que falamos.
7.PROMOVA PASSEIOS EM PARQUES PÚBLICOS, EM RESERVAS NATURAIS
Desde bebê, é importante que se cultive a relação da criança com o mundo natural. Permita aos pequenos explorar o potencial lúdico da natureza e apreciar o estar em contato com ela. O convívio com a natureza estabelecerá um vínculo importante de afeto que resultará no respeito e cuidado com o meio ambiente.
8.CURTA BRINCAR COM OS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO
Os animais e os humanos são seres lúdicos em sua essência e juntos podem viver momentos de alegria e descontração. Desfrute esses momentos mais vezes.
9.RESGATE AS BRINCADEIRAS TRADICIONAIS
Pega-pega, esconde-esconde, pular corda, amarelinha – são brincadeiras que atravessam gerações e que colocam as crianças em movimento gastando energia.
10.RELEMBRE SUAS BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA
A infância é um baú de tesouros que carregamos por toda a vida, dele podemos tirar muitas preciosidades. Essas memórias afetivas têm o poder de fortalecer nossa relação com os filhos.
11.NÃO ACREDITE EM FALSAS PROMESSAS DE JOGUINHOS DIGITAIS PARA ESTIMULAR A INTELIGÊNCIA DAS CRIANÇAS
O desenvolvimento da inteligência da criança está ligado aos estímulos sensoriais, à interação com os pais e/ou responsáveis, ao afeto recebido, à experimentação e à oportunidade de criação no brincar.
12.ESTIMULE A DEDICAÇÃO A ALGUM TIPO DE COLEÇÃO
Colecionar algo é divertido. Pode ser uma coleção de elementos da natureza – pedras, penas, conchas do mar, ou também cartões postais, notas e moedas antigas, etc. O colecionador é uma espécie de historiador.
13.EDUQUE SEU FILHO PARA O CONSUMO SUSTENTÁVEL
É importante conversar abertamente com as crianças maiores sobre a importância do consumo de forma responsável, respeitando os limites dos recursos naturais. Falar sobre a geração de resíduos e sobre os conceitos de reduzir, reutilizar e reciclar é também muito importante.
14.CULTIVE VALORES HUMANOS E NÃO MATERIALISTAS
Dar importância ao ser e não ao ter ensinando às crianças o respeito ao meio ambiente, ao outro, cultivando a solidariedade, a empatia, a valorização da diversidade.
15.INCENTIVE AS CRIANÇAS A CRIAR SEUS PRÓPRIOS BRINQUEDOS
A partir de materiais naturais, como gravetos, folhas, sementes, pedras, colhidos em uma caminhada no parque, praça, jardim, as crianças podem construir suas brincadeiras. Separe caixas de papelão, caixa de ovos, rolhas, retalhos. Disponibilize cola, barbante e deixe-as brincar de forma criativa.
16.ESTIMULE O COMPARTILHAMENTO ENTRE AS CRIANÇAS
Ter acesso à produtos e serviços é mais importante que ter a posse. Incentive o empréstimo de brinquedos entre os amiguinhos da escola e entre primos. O “é nosso” pode ter mais valor do que o “é meu”.
17.DESVINCULE AS DATAS COMEMORATIVAS AO CONSUMO
Incentive o fazer manual. Você e as crianças podem confeccionar os presentes e lembranças do Natal, Páscoa, aniversários, etc. O prazer de fazer com as próprias mãos é imensurável!
18.ORGANIZE UMA FEIRA DE TROCAS DE BRINQUEDOS
A feira pode ser feita no quintal de sua casa, em parques públicos, escolas, ou quaisquer outros espaços coletivos. Você também pode criar feiras de trocas de outros produtos: livros, roupas, sapatos, material escolar.
FEIRA DE TROCAS DE BRINQUEDOS – UMA MANEIRA DE PROTEGER NOSSOS FILHOS DO CONSUMISMO INFANTIL
Deixei a sugestão das feiras de troca de brinquedos por último porque este é o desejo da mãe que escreveu para mim esta semana. Ela quer organizar um grupo de mães para troca de brinquedos com o intuito de evitar gastos excessivos e acúmulo desnecessário.
No debate sobre o consumismo na infância, o estímulo à troca de brinquedos tem uma força muito grande: incentiva mudanças de hábitos de consumo e contribui para que a criança desenvolva a visão de um mundo colaborativo. É uma experiência rica e uma maneira lúdica de refletir sobre os conceitos básicos de reduzir, reutilizar e reciclar. Essa é uma prática comum em vários lugares do mundo.
Imagem:feiradetrocas.com.br
Quando meus filhos eram pequenos promovi na garagem de nossa casa muitos encontros entre a criançada da rua para a troca de brinquedos que sempre fizeram muito sucesso na vizinhança.
Meus filhos gostavam de todas as etapas da organização. A começar pela seleção dos brinquedos para troca, que não deixa de ser um exercício de desapego para algumas crianças. Depois eles curtiam a etapa da arrumação do espaço, receber as crianças e por fim oferecer seus brinquedos e escolher os brinquedos dos amigos. Foram encontros muito divertidos. Deixaram lembranças gostosas!
Organizar uma feira de troca de brinquedos hoje ficou mais fácil. O programa Criança e Consumo do Instituto Alana criou uma ação de mobilização que incentiva pais, mães, educadores, entidades, a organizar suas edições da Feira de Trocas de Brinquedos.
Para saber como executar a sua Feira de Trocas de Brinquedos, o Criança e Consumo disponibiliza em seu site informações e materiais de apoio para a organização e divulgação do seu evento. No site você poderá também compartilhar como foi sua feira enviando imagens e depoimentos. Pode também enviar aqui para o Educando Tudo Muda.
Imagem: feiradetrocas.com.br
Gostou da ideia da Feira de Trocas de Brinquedos e das dicas para proteger nossos filhos do consumismo infantil?
Precisamos compreender que os recursos naturais são finitos e não se regeneram na mesma velocidade em que os seres humanos os exploram. Precisamos nos conscientizar de que nossos hábitos de consumo impactam a coletividade.
As crianças estão abertas a um mundo colaborativo, acredite. E você, está? Pensando bem, trocar pode ser mais divertido do que comprar! O que você acha?
Como diz o Manifesto Trocando Hábitos
“Novos e diferentes hábitos são possíveis. As Feiras de Troca de Brinquedos, nesse contexto, são um espaço revolucionário. Não estamos apenas trocando brinquedos. Estamos trocando hábitos. E trocar pode ser muito mais divertido do que comprar.”
Para finalizar quero sugerir que você assista o filme ‘Criança, a alma do negócio’. Trata-se de um documentário sobre o consumo desenfreado na infância impulsionado pelos altos investimentos em publicidade pelas empresas. Uma proposta de reflexão para conscientização da sociedade sobre as relações de consumo e novos hábitos para um mundo sustentável. É possível baixar o filme cadastrando-se na plataforma Vídeocamp e organizando uma sessão.
Baixe AQUI o Guia Geral de como organizar a Feira de Trocas de Brinquedos.
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Abraço caloroso
Ana Lúcia Machado
