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Educando

Sua família é uma ilha?

Você alguma vez já pensou nesta pergunta? Sua família é uma ilha? É uma excelente reflexão para os pais novos. Ao longo deste artigo você vai entender a razão.

Tenho feito um trabalho de intermediadora de diálogos após sessões de exibição do filme “O começo da vida”. Tem sido uma tarefa enriquecedora e gratificante.

Para quem não conhece, este filme foi lançado em maio deste ano. É um documentário sobre a importância dos primeiros anos de vida. Filmado em 9 países, mostra famílias de diversas culturas, etnias e classes sociais, com depoimentos de crianças, mães, pais, além de entrevistas com inúmeros especialistas em desenvolvimento infantil. O filme foi produzido pela cineasta brasileira, Estela Renner. O trabalho de produção durou 3 anos. Foram 400 horas de filmagem. A diretora e sua equipe rodaram  4 continentes. O filme é belíssimo. Já assisti diversas vezes e toda vez que assisto novamente me emociono, tal a sua força , sensibilidade e delicadeza.

Sua família é uma ilha?

É uma proposta de reflexão sobre a relevância dos primeiros 6 anos de vida das crianças e o impacto deste período na formação e desenvolvimento dos potenciais que cada indivíduo poderá ser capaz de cultivar ao longo da existência. Ele nos desperta para os cuidados com a primeira infância, e reforça que as crianças são o futuro da humanidade.

Há uma passagem maravilhosa no livro “Grande Sertão Veredas“ de Guimarães Rosa que fala assim: “Uma criança nasceu. O mundo tornou a começar.” O milagre do recomeço do mundo acontece a cada novo nascimento. O mundo recomeça todas as vezes que, vencendo tantas forças contrárias, a vida sobrevive. A primeira força que a criança tem que fazer é lutar para passar pelo canal de nascimento. Esta é a 1ª jornada do herói.

Após o nascimento, a criança passa pela 2ª gestação, a gestação extra uterina e social.  Ao nascer a criança é entregue às mãos humanas, num verdadeiro útero social formado pela família, pela escola e por toda a comunidade.  A criança se forma através de relações de amor com os pais, irmãos, avós, professores, amigos, com outras crianças, com a natureza, etc… A infância é o chão sobre o qual cada ser humano constrói a sua vida. É um período curto, mas que tem uma potência enorme, que nos enriquece e perdura por toda a vida.

Sua família é uma ilha?

Uma  entrevista que me impactou bastante no filme, foi  com a médica Dra. Vera Cordeiro, fundadora da Associação Saúde Criança. Ela diz que a criança chega com tanta energia, com tanta criatividade, que a mãe só não dá conta. É necessário pai, avós, vizinhos… é necessário toda a comunidade para que a criança se desenvolva e  ela cita um provérbio africano – “É necessário uma vila para educar uma criança.”

Isto me levou a refletir sobre como é árdua a jornada de educação dos filhos e como precisamos de suporte para enfrentar tantos desafios que se impõe diante de nós ao longo dos anos de formação deles.

É muito importante quando podemos contar com a presença dos avós, tios, amigos, vizinhos. É fundamental criarmos uma rede de apoio. É reconfortante saber que temos a quem recorrer em momentos difíceis. Fica mais fácil quando temos contato com outras famílias com crianças e que podemos promover encontros e interações entre elas.

Sua família é uma ilha?

As escolas que meus filhos frequentaram tiveram papel relevante sob este aspecto ao estimular o convívio entre as famílias por meio de organização de passeios, encontros fora da escola. Vivenciamos uma grande integração entre nós, o que contribuiu para o estabelecimento de vínculos mais fortes que perduram até hoje.

As dificuldades da vida nos grandes centros urbanos de certa maneira nos levaram ao isolamento. A violência crescente gerou muita insegurança e fez com que erguêssemos muros e perdêssemos o sentido comunitário. Mas para se desenvolver, a criança precisa de círculos de amizade onde possa se expandir gradualmente. Principalmente os jovens, que a partir dos 14 anos vão se separando dos pais e conhecendo o mundo. Nesse momento a rede social criada e cultivada durantes anos, poderá funcionar como uma ponte segura na transição da adolescência. Na verdade os filhos não pertencem aos pais, eles pertencem à família toda, a comunidade local e a humanidade inteira. Por isso que refletir sobre a pergunta – Sua família é uma ilha? – é extremamente importante.

Sua família é uma ilha?

Sinto profunda gratidão por toda a rede social que me ajudou na educação dos meus filhos. Sou grata aos meus pais, irmãos, sogros, amigos, pessoas sensacionais que foram verdadeiras âncoras e que  doaram tempo e muito amor à eles.

Vale a pena nutrir esses relacionamentos! Vale a pena assistir o filme!

abraço carinhoso

Ana Lúcia

 

 

POR QUE NÃO ALFABETIZEI MEUS FILHOS ANTES DOS SETE ANOS E AS 6 CONSEQUÊNCIAS DA ALFABETIZAÇÃO PRECOCE

alfabetização precoce

Este é um relato sobre o por que não alfabetizei meus filhos antes dos sete anos e as 6 consequências da alfabetização precoce.

Tenho dois filhos. O mais velho, entrou na universidade este ano e a caçula está às vésperas de começar o ensino médio. O que me confere o distanciamento necessário para uma avaliação consciente do resultado das opções que fizemos em relação à  educação deles. Uma das opções, vou relatar aqui, por que não alfabetizei meus filhos antes dos sete anos, e apontar algumas das consequências da alfabetização precoce.

Quando o primogênito nasceu, caiu em minhas mãos um livro intitulado “Como ensinar os bebês a ler”. Como sou uma leitora contumaz, logo dei conta de conhecer o  método de alfabetização de bebês proposto nessa publicação.

Confesso que fiquei chocada e ainda depois de tantos anos, me lembro da sensação desconfortante que essa leitura me causou. No final do livro, havia textos poéticos de crianças alfabetizadas em tenra idade pelo método. Eram poemas que denotavam tal densidade, tamanha angústia nas entrelinhas, uma visão cinzenta do mundo, que me assustou e me fez perceber quão nefasta é a alfabetização precoce na vida de uma criança.

E logo entendi a verdadeira linguagem da criança pequena, e a forma como ela apreende e aprende o mundo. Quando o meu olhar e do meu bebê se encontravam, e um sorriso iluminado se abria em seu rostinho, com sons e aquele balbuciar característico dos bebês, ficou claro para mim que o ser humano é um ser brincante e que seu desenvolvimento e aprendizado está fundamentado numa linguagem lúdica.

Lembro também da minha irmã caçula, mais nova que eu 17 anos. Ela foi uma criança tão brincante! Levava tão a sério seu ofício de brincar! Passava horas e horas concentrada, criando brincadeiras, construindo seus brinquedos. Quando chegou a hora de ir para o 1º ano escolar e ser alfabetizada, seu desejo por brincar ainda era tão gritante, que minha mãe, em sua sabedoria foi até a escola e pediu para a diretora deixá-la  mais um ano na pré-escola. E assim foi que feliz da vida ela pôde amadurecer e se preparar para a alfabetização no ano seguinte, sem prejuízo algum à sua vida escolar.

consequências da alfabetização precoce

Foi observando o quanto as crianças precisam correr, pular, rolar, rodar, rir, e o quanto elas são curiosas, ávidas a explorar tudo que as cercam, que tive a certeza de que para meus filhos se desenvolverem de forma natural e saudável, o melhor a fazer seria favorecer o brincar. E desta forma optei por uma pré-escola com foco no brincar livre na natureza. O início do processo de alfabetização de ambos, só ocorreu a partir dos 7 anos, quando eles estavam prontos e maduros para as atividades intelectuais.

 

 

A NATUREZA COMO ESCOLA DA VIDA

A natureza é uma grande mestra e criança aprende brincando. O brincar é uma atividade espontânea e nata em toda criança. O brincar ensina tudo o que os pequenos precisam aprender. Paulo Freire diz: “Primeiro a criança lê o mundo para depois ler as letras.” No contato com a natureza a criança aprende o que não pode ser ensinado nem pelos pais, nem por professores. A necessidade da criança de movimento é imensa e constante, isto a leva a conhecer e explorar o mundo que a cerca.  As vivências e brincadeiras ao ar livre proporcionam  inúmeras conquistas:

-Autonomia e segurança

-Conhecimento do próprio corpo,

-Habilidades motoras, destreza e equilíbrio corporal

-Florescimento da imaginação e fantasia

-Interesse e encantamento pelo mundo

-Vitalidade e saúde

 

Olhar uma criança brincando é reaprender a dimensão do humano. Quando brinca, a criança está inteira na brincadeira. Ela brinca com todo o seu ser.

alfabetização precoce

Entretanto, o livre brincar está em declínio na sociedade contemporânea. Infelizmente a Educação Infantil está cada dia mais parecida com o Ensino Fundamental, por causa da ênfase na alfabetização. Atividades que requerem que a criança seja capaz de se sentar em uma mesa e completar uma tarefa usando lápis e papel, que antes estavam restritas às crianças de 5 e 6 anos de idade, são agora dirigidas às crianças ainda mais novas, que não têm habilidades motoras e não têm a capacidade de concentração para isso, com exigências de que devem concluir seus trabalhos e atividades, antes que possam ir brincar. O sistema escolar tradicional tem produzido crianças completamente desinteressadas pela escola.

As consequências da pressão escolar e alfabetização precoce são muito sérias e devemos estar atentos a elas:

alfabetização precoce

 

1)Desvitalização  do organismo,

2)Empobrecimento da capacidade imaginativa e criativa

3)Apatia, desinteresse pelo mundo

4) Dificuldades  nos relações sociais

5) Agressividade

6)Stress infantil

 

 

Crianças que são tolhidas na sua necessidade de brincar terão dificuldades de decodificar o mundo. Stuart Brown, psiquiatra americano, pioneiro na pesquisa sobre o brincar, em seus estudos profundos sobre histórias de vida de assassinos e alcoólatras, descobriu a ausência do brincar na vida dessas pessoas. Seus anos de prática clínica comprovam que brincar bastante na infância gera adultos felizes e bem sucedidos e a capacidade de continuar nutrindo este ser brincante que somos, nos mantém joviais e saudáveis ao longo da vida. Brincar é vital.

alfabetização precoce

Brincar, como disse Albert Einstein, é a forma mais plena de fazer ciência, de explorar e investigar as coisas.

Sei que remar contra a maré é mais difícil, mas neste caso vale a pena. Vale questionar o sistema, questionar a alfabetização precoce e defender o direito das crianças viverem a infância como deve ser, com respeito, em sua plenitude, encanto e beleza. Como tão bem versejou Fernando Pessoa,

Quando as crianças brincam

E eu as oiço brincar,

Qualquer coisa em minha alma

Começa a se alegrar.

E toda aquela infância

Que não tive me vem,

Numa onda de alegria

Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,

E quem serei visão,

Quem sou ao menos sinta

Isto no coração.

Abraço

Ana Lúcia Machado

TRANSTORNO DO DEFICIT DE NATUREZA, NÃO SABE O QUE É ?

Transtorno de Déficit de Natureza, não sabe o que é? Você vai conhecer agora:

Estatísticas mostram que 80% da população brasileira vive em cidades e que as crianças que moram nos grandes centros urbanos passam 90% do seu tempo em locais fechados, dentro de casa,  em frente da televisão, jogando vídeo games, ou nas escolas dentro de salas de aula. Quando saem com os pais vão ao shopping, restaurante ou cinema.

Transtorno de Déficit de Natureza

Ao longo dos anos, com a crescente urbanização do ser humano, espaço e tempo diminuíram. Valores da sociedade de consumo tomaram conta do tempo e lugar do brincar, do universo da criança. Com menos de 03 anos de idade, as crianças  já sabem  usar smartphones, brincam com tablets,  jogam games, mas poucas sabem amarrar os cadarços do tênis, pular cordas, subir em árvores, etc.

O uso excessivo da tecnologia na infância pode prejudicar o desenvolvimento infantil, causando dificuldade de concentração, má qualidade do sono, sedentarismo, problemas de saúde mental, atraso de aprendizagem, entre outros distúrbios, é o que muitos estudos científicos tem demonstrado.

As crianças brasileiras, segundo dados do relatório Children & Nature Network, estão entre aquelas que tem menos contato com a natureza. Doenças que passaram a ser comuns entre as crianças nos dias de hoje, tais como  transtorno de hiperatividade, déficit de atenção, depressão, pressão alta e diabetes, estão diretamente ligadas com a falta de natureza.

Um movimento mundial de retorno à natureza está se espalhando e já chegou ao Brasil, chamado Criança e Natureza. Um movimento de reconectar as crianças com ambientes ao ar livre. Um novo termo está circulando e sendo usado  por pediatras, psicólogos, educadores, trata-se da expressão  “Transtorno do Deficit de Natureza”.  Uma pesquisa recente mostrou que 40% das crianças brasileiras passam uma hora ou menos ao ar livre. Um número inexpressivo.

O que a falta de natureza somado ao estresse da vida urbana pode causar?

-obesidade infantil, associada a maus hábitos alimentares

-musculatura fraca, pela falta de atividade física

-falta de equilíbrio, pelo predomínio de pisos lisos, cimentados que oferecem pouca oportunidade de instabilidade na movimentação corporal

-deficiência de vitamina D

-aumento de incidência de miopia

-menor uso dos sentidos

-ansiedade

A primeira tarefa da educação é ensinar a ver. Através do olhar estabelecemos contato com a exuberância e beleza que há no mundo. A conexão com a natureza gera alegria e reverência. Traz a consciência de pertencimento, de que estamos ligados ao todo. Homem e natureza – uma coisa só.

A natureza deve ser a 1ª leitura de mundo da criança. Além de aprendizado por si só, ela é também benéfica para o desenvolvimento infantil integral e saudável. Infância e natureza estão intimamente ligadas.

A criança tem um espírito exploratório. Brincando e descobrindo a natureza, a criança aprende. E aprende de uma forma tão descontraída e prazerosa, que nem parece aprendizado. A criança precisa de experiências na natureza, este contato é muito produtivo, pacificador, restaurador para ela. A natureza provoca um equilíbrio interno, autorregulador na criança.

Transtorno de Déficit de Natureza

 

(mais…)

O MUNDO É BOM!

Reverencio essa roda que com maestria prossegue trazendo em si a força do uno, do individual e igualmente carrega o ímpeto e o poder do todo, do ligamento e da interdependência existente entre os seres. Abençoadas sejam as cirandas infantis, que como  sementes se espalham e se depositam em solo novo e fértil; adormecidas parecem nada significar, porém em tempo certo manifestam-se como poderosa fonte de vida. Abençoadas sejam as rodas formadas por meninas e meninos que compõe um colorido diversificado e harmonioso e que trazem em si o sentimento de que o mundo é bom.

Feliz a criança que em sua infância pode fazer parte de uma ciranda e entoar as cantigas de rodas que a marcará para sempre. Enquanto se formarem cirandas nos quintais das casas, nos pátios de escolas, em praças e parques; enquanto crianças derem-se as mãos em grandes ou pequenos círculos, haverá a confiança de que o mundo é bom, e a esperança de transformação do ser humano e de suas relações.

O mundo é bom

À essa ciranda devo o sentimento de valorização de minha própria existência e o de respeito ao outro. Respeito aos meus pais, meus irmãos, respeito à todos que mesmo de passagem deixaram uma marca indelével em minha história. Profundo respeito aos meus mestres que me ensinaram o mistério oculto em cada ser vivente e a nossa total interligação e interdependência na sustentação da vida. À todos esses mestres minha eterna gratidão.

Carrego em mim a ESPERANÇA de um mundo bom, justo e verdadeiro, e a responsabilidade de revelá-lo às novas gerações através desta lente. Este é nosso dever enquanto pais e educadores, este é o dever da NOVA ESCOLA, com a qual eu sonho todas as noites.

Apresentemos à criança um mundo BOM para que ela adquira autoconfiança e possa ter fé na humanidade e em suas infinitas possibilidades. Proporcionemos à elas vivências que suscitem gratidão pela VIDA. Criemos um ÚTERO EMOCIONAL para essa criança recém chegada a este mundo com o intuito de preservá-la e protegê-la durante a primeira infância até que possa caminhar com confiança.

O mundo é bom

“A infância não é uma coisa que morre em nós e seca uma vez cumprido o seu ciclo. Não é uma lembrança. É o mais vivo dos tesouros e continua a nos enriquecer sem que o saibamos.” – Franz Hellens

Abraço
Ana Lúcia Machado

Brincadeiras Infantis

Sempre tenho  vários livros na minha cabeceira.  Degusto um pouquinho aqui, outro pouquinho ali. Nunca falta a poesia, ora Fernando Pessoa, ora Adélia Prado, entre outros. Passeio por romances, crônicas, etc.  Acabo de ler  “Minha vida de menina” de Helena Morley, pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant (1880-1970).

Tendo como pano de fundo o Brasil  pós  abolição da escravatura e proclamação da República, Helena narra seu dia-a-dia em sua cidade natal, Diamantina, entre 1893 e 1895. O livro foi publicado pela primeira vez em 1942. Através do diário da adolescente, tomamos conhecimento sobre os costumes da sociedade da época, a estrutura familiar e todo o universo que cerca essa garota, com seus conflitos, temores e sonhos.

Em 2004 o livro foi adaptado para o cinema e dirigido por Helena Solberg. Foi assim que descobri o livro. Fiz o inverso do que estou habituada a fazer: primeiro vi o filme. Gosto de criar as minhas próprias imagens para depois  me expor às imagens construídas por terceiros. Mas isso não vem ao caso.

O que pretendo compartilhar e comentar aqui, é um trecho do livro que me chamou muito a atenção. Certa vez Helena sofreu uma queda de um cavalo e machucou o joelho, o que lhe obrigou a ficar em repouso, presa dentro de casa. Com relação a este episódio, ela tece o seguinte comentário: “Como é horrível ficar presa num rancho, sabendo que há tanta coisa boa para a gente fazer! Quando eu penso que podia estar no córrego pescando ou mesmo atrás das frutas do mato, dos ninhos de passarinho, armando arapuca e tudo…” Ela continua a se lamentar e diz que só voltará  a se sentir feliz quando estiver novamente lá fora.

Passados aproximadamente 117 anos, quanta coisa mudou! Não poderia ser diferente. Mas constatar que hoje a realidade de nossas crianças é completamente oposta, causa-me espanto. Atualmente nossas crianças não sabem mais o que  fazer do lado de fora. Não apenas as crianças que vivem nos grandes centros urbanos. E  mesmo essas, em férias no campo ou na praia, não conseguem explorar todas as possibilidades que o mundo fora de casa  pode proporcionar.

Apesar de morar em São Paulo, vivi minha infância num tempo que ainda era possível brincar na rua. Andávamos de bicicleta, brincávamos de pega-pega, esconde-esconde, duro ou mole, queimada, etc…tudo na rua.

A crescente violência  aos poucos fez com que levantássemos muros, nos isolássemos. Com o tempo vários fatores modificaram os brinquedos e as brincadeiras infantis. Hoje uma criança que machuque uma perna, não se importará com isso tanto quanto Helena Morley.  A criança de hoje lamentará na mesma proporção que Helena, se ferir seus olhos ou mãos.

Não se trata de saudosismo, quero apenas destacar a necessidade de equilíbrio entre o dentro e fora. Quero ressaltar também a importância da busca por uma vida mais integrada à natureza.

A tela do pintor holandês Pieter Bruegel (1525-1569)  intitulada “Brincadeiras Infantis”mostra muitas crianças brincando. Rubem Alves, poeta, filósofo brasileiro, diz que já enumerou 60 brincadeiras nesse quadro. A maioria das brincadeiras de Bruegel, são do lado de fora.

Brincadeiras Infantis
Que possamos nos inspirar e brincar!

Abraço ,
Ana Lúcia Machado

Como fazer do meu filho um futuro leitor?

Como fazer do meu filho um futuro leitor? Esta é uma inquietação recorrente em muitas famílias. Não existe uma fórmula milagrosa. É uma construção diária. Acompanhe minha experiência.

Uma das lembranças preciosas da infância que guardo no coração é quando eu sentava no colo de minha mãe e ela lia histórias para mim. Adorava esse momento! Lembro me da história “A casa que Pedro fez”, os chamados contos cumulativos. Pedia para ela repetir, duas, três vezes. Sabe aquela frase conhecida da criança: “de novo”?  Quem tem filhos, sobrinhos, netos, alunos pequenos, sabe o que eu estou dizendo. As crianças não se cansam das histórias. As histórias são alimento para a alma infantil e para a nossa também.

Amo os livros, as palavras! Saboreio-as como a um bom prato. Umas são picantes, outras  suaves. Algumas calam fundo e ficam lá dentro da gente, ressoando por muito tempo. Algumas são extremamente sonoras e sinto prazer ao pronunciá-las, são melodiosas como uma canção.

Certos livros às vezes me despem, deixam minha alma nua. Revelam o mais íntimo do meu ser e chego a perguntar como não fui eu que escrevi tais palavras? Mário Quintana declarou que Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente e não a gente a ele”.

Como fazer do meu filho um futuro leitor?

A leitura é aventura, diversão, é estímulo para a imaginação. Ler nos alimenta, traz alento, consolo, auto conhecimento. Leio na sala de espera do dentista, na fila do banco, no trânsito, no cabeleireiro. Na cabeceira da cama tenho vários títulos, ora leio poesia, ora um romance.

Ler é transformador e libertador. A história do ex-presidiário Luiz Alberto Mendes é surpreendente. Ele passou mais de 30 anos encarcerado. Foi na prisão que descobriu o prazer pela leitura e isso mudou toda a sua história. Ele relata que lia dentro da cela lotada, com todas as condições desfavoráveis para qualquer tipo de atividade produtiva. De leitor, passou a autor. Escreveu e publicou seu primeiro livro Memórias de um sobrevivente. É hoje um homem livre. Vale a pena conhecer a história desse guerreiro.

Li muito para meus filhos quando eram pequeninos. Lia contos de fadas. Os contos de fadas falam em uma linguagem simbólica, universal. Há nos contos de fadas uma riqueza infinita  e não é necessário explicar nada à criança porque  ela assimila e digere de acordo com a necessidade da sua alma.

Como fazer do meu filho um futuro leitor?

Às vezes os pais perguntam: quando começar a ler para meu filho? Como fazer do meu filho um futuro leitor? Simplesmente leia. Sinta prazer na leitura e seu filho também sentirá. Ame os livros e ele também amará. Não deixe essa responsabilidade inteiramente nas mãos da escola. Muitas vezes a consciência da importância da leitura chega tarde demais, na época do vestibular, quando o jovem será  obrigado a ler Machado de Assis, Graciliano Ramos, entre outros. Essa história começa em casa:

“Era uma vez um pai e uma mãe que todas as noites contavam uma história para o filho… E a criança cresceu, aprendeu a ler. Leu seu primeiro livro, depois o segundo e nunca mais parou de ler livros.”

Deixo aqui a história que minha mãe contava para mim todas as noites e ainda a indicação de livros para as famílias e educadores para cultivar o hábito da leitura:

Esta é a casa que Pedro fez

Este é o trigo
Que está plantado no quintal da casa que Pedro fez
Este é o rato
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.
Este é o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.
Este é o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.
Esta é a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.
Esta é a moça mal vestida,
Que ordenhou a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez .
Este é o moço todo rasgado,
Noivo da moça toda mal vestida,
Que ordenhou a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.
Este é o padre de barba feita,
Que casou o moço todo rasgado,
Com aquela moça toda mal vestida,
Que ordenhava a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo,
Que está na casa que Pedro fez.
Este é o galo que cantou de manhã,
Para acordar o padre de barba feita,
Que casou o moço todo rasgado,
Com a moça toda mal vestida,
Que ordenhava a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.
Este é o fazendeiro que colheu o milho,
Para dar ao galo que cantou de manhã,
Para acordar o padre de barba feita,
Que casou o moço todo rasgado,
Com a moça toda mal vestida,
Que ordenhava a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez .

Indicação de livros:

A Magia da Leitura

A Família Leitora 

Manual de Leitura em Voz Alta

Faça-os Ler

Abraço
Ana Lúcia Machado